17.8.09

Canceriano em lágrimas (arquivo FMI)

Sempre me imaginei, todo de branco
Entrando, sendo levado
À ala dos loucos mais perigosos
Segurando na mão de minha irmã, desesperada
que agora já não tem certeza de que é para o meu próprio bem
Esta cadeira de rodas amarrado e insano

Imagino a minha luta inerte
Contra as águas que começam a inundar meu pulmão
Minhas próprias lágrimas
Guardei-as por toda a minha vida
Espero que estas mesmas, lágrimas
Me presenteiem agora com a eternidade
Libertando-me deste quarto não-alcochoado
que é a minha vida

6.8.09

Quarta-feira

A quarta-feira pra mim vai ser sempre um dia importante. O dia que o vovô macaco (peludo e
comedor de banana) vinha me buscar pra tomar sorvete e depois jogar buraco. Nunca ganhei um jogo sequer. Mesmo quando eu era "garoto" ele não me deixava ganhar, dizia que era uma
sacanagem deixar alguém ganhar. Chegava em casa, tocava a campainha e sempre que eu ia
olhar no olho mágico lá estava aquele olhão do outro lado "a-há". Íamos pro shopping, ele
sempre com aquela bermuda jeans (acho que era sempre a mesma). A camisa por dentro e aquela meia branca até a canela. Sempre tomava mais sorvete que eu.

Quando voltava de aracaju, vinha sempre cheio de histórias e por lá ficava conhecido como
vovô-gump.
Quem nunca ouviu a história de que o Pedro quando foi escolher o curso dele escolheu pelo
que tinha menos concorrência?.
Toda vez que estava na casa do vovô ele contava do dia em que o Bruno comeu uma panela de
munguzá inteira e todo mundo ficou sem jantar.
Do Rio também trazia notícias.Até hoje acho que ele não tem certeza se o Leandro faz história ou geografia, ou as duas coisas, mas falava que isso já tem pelo menos uns 10 anos.
Os únicos netos que salvam a família, ele dizia, a Carlinha e a Bibi, cheio de orgulho.
Falava também que o vitinho poderia ser a salvação dos netos homens.
Que o Lipe não gostava de falar ao telefone.
E que a Dani sempre atende o telefone.
Chamava o Sérgio de Ruy, o Ruy de Sérgio, a Regina de Denise e a Denise de Regina. Desse
jeito eu não entendia nada, mas ele achava o máximo falar da família. Por exemplo, que a Ruth ou a Estella sentava a porrada nos meninos do colégio que mexiam com ele.

Meus amigos não acreditavam, parecia clichê eu falando (vai lá em casa).Que o meu avô era todo fortinho e durinho que caminhava todo dia e que ainda dava no coro, como ele tanto gostava de afirmar. Que detestava guaraná até a coca-cola resolver lançar a Kuat. E sempre que alguém o conhecia eu pedia pra ele encostar a língua no nariz ou mexer a orelha sem usar as mãos e sem mexer a sombrancelha. Digo sempre que é a pessoa mais justa que já conheci na minha vida. Eu achava que todo mundo tinha que conhecer o vovô. Que todo mundo tinha que provar sorvete de menta do Zecas e queijo coalho com goiabada.
Ainda acho.