25.5.09

O medo persegue o meu inconsciente acorrentado ao sopro da noite
Meus olhos podem ver mais quando não posso controlá-los
Os ouvidos estão mais aguçados
Meus passos tornaram-se mais pesados
Nas avenidas que se transformaram em vielas
As ruas de meu quintal
Formam calçadas irreconhecíveis
Eu não me reconheceria
Pálido e negro
As sombras perseguem minha escuridão
Meus fantasmas só assustam na luz do fogo
O mesmo que incendeia a luz dos meus olhos, que se apagam no choro
Vigiam-me os olhos de quem me seduz à noite
Me olha de um céu tão distante
Cravaria agora mesmo um punhal em meu peito
Mas sabe que eu não posso resistir aos seus mistérios

Se até a lua tem crateras
Por que eu insisto em morrer ?
Faz tanto tempo que não nos vemos
Que por algum momento surgiu alguma incerteza
Talvez pelos móveis, não sei
Podem ter duvidado da minha espera
Estão no mesmo lugar desde o sempre
Mas parecem estar um passo atrás
Talvez a sala tenha sofrido com o vazio
A solidão mata de asfixia
O coração bate tão forte que sufoca
A cozinha é amiga, mas muito silenciosa
Os quartos estão fechados
Tornando mórbidos os corredores
Meu quarto está desesperado
A televisão grita e as cores brilham
Há sempre uma luz acesa
Iluminando os meus olhos bem abertos
Até que o sono surre minha nuca
De manhã acordo olhando para o telefone
Depois de fingir me preocupar
Sem obter sucesso para me concentrar no jornal
Meu cotidiano é sem gosto
O meu mel não gruda

9.5.09


'Coisas que leio nas revistas sem estar realmente escrito, que não queria nunca que estivessem em outdoor´s.'


Estive caminhando errada por aí e nem sabia
- (se só existe um caminho porque eu não acho?)...
Tive um dia ruim e nem percebi
Têm sido piores que isso e me descuidei ou não pude acreditar
Milhões de coisas sobre mim que eu não sei
- (vou anotar)...
Estive correndo por aí
Lendo outdoor´s e reclamando desse calor infernal
Estive incompreensível até para mim
No lado errado da cama, do lado mais perto do telefone
Não sei o que é sonho ou o que é pensamento
Aquilo que li não era bem o que estava escrito, lendo de novo esses outdoor´s
Há quem ache esse sol tão bonito
Também tenho meus gostos estranhos
- (a maneira como pintam as calçadas de São Paulo, por exemplo)...

Passei pela banca de jornal...
Comprei uma revista velha.
A fim de encontrar algum vestígio teu.
- (nenhum sinal. Nenhum “procura-se” por mim)...
Estava certa do que procuravas.
E sabia da minha fuga.
E que éramos únicos.
- (jamais te senti, apenas em meus pensamentos)...
E nos teus pensamentos, nunca estive em teus braços.
Mas mesmo assim, contudo, havia carinho.
Meu, através de um devaneio. Teu, instigado pelo limite.
- (ao passo que nosso abraço sem braços fez-se distante do amanhã)...
A descoberta do carinho fez-se amanhã no tempo que passou.
- (talvez eu siga teus passos)...
Amanhã, comprarei outra revista...


(parceria com Juliana Porto)