30.12.06

O Recife dos poetas

Passeio na ilusão do encontro com as certezas que sempre profetizei.
Adormeço sentindo o ar quase puro do ar-condicionado.
Levanto-me na madrugada gélida e solitária para escrever
Sobre amores românticos ou profanos.

Sigo as avenidas do prazer.
Junto todas as incongruências e as torno congruentes.
Ultrapasso os carros quase apagados, os sinais vermelhos,
E as meretrizes estudantes.
Tanta beleza, tanta pobreza.

Uma cidade de contrastes.
Nas ruas, descalço, caminho sozinho.
Nos postes mictórios, apóio-me para descansar.

No Marco-Zero sento-me para admirar as esculturas infames.
Acendo um cigarro e começo a jogar com as palavras.
O Antigo continua antigo.
Navios em seu porto e a fragrância peculiar.

Nas estradas, pelas quais prossigo ao retornar,
Atravesso o Capibaribe.
De versos e rimas, pobres e lixos,
Sonhadores e loucos, bêbados sem destino.
Ah! O meu Recife continua lindo.

Cidade dos loucos profetas,
Dos marginais sem pais,
De mortes brutais e
Dos grandes poetas.

A libertação do pensamento niilista

O pensamento se afasta da liberdade poética e aproxima-se da filosofia niilista.
Morram os dogmas e fermentem a renascença
Espiritual, material e até a banal.

Entre dissabores e incongruências psíquicas,
Valho de minhas obscuras tentações.
Sirvo de esboço para o novo homem.
Sirvo de escora para novas gerações!

Traumatismo sensato,
Extraindo a inércia moral da juventude.
Batalhas sobre mitos;
Psicologia sobre escritos.

A personalização do extraterreno
Faz das claques, realidade.
Dos tolos, hagiógrafos do niilismo.
Levando ignotos a se restringirem ao cristão exílio.

Apareço como a incógnita dantesca.
Levantando hastes e proclamando a republica
Da inexistência da vida pós-morte.
Da falência dos infecundos conceitos,
Da hipocrisia e dos falsos direitos.

Mayakovsky e a revolução pela arte

O gelo destrói as insignificantes lutas por Status.
Um paradoxo irracional em plena guerra alimentar.
O Estado fortalecido pelas vendas nacionais,
E as razões da consciência profissional sobrepõem-se ao lado financeiro.

Um salve ao Comunismo!
Deixe as claques,
Os gerúndios,
Limites,
Para os Estados Unidos.

Acaba-se a guerra.
A população está faminta,
Sem educação e sem saúde.
Inicia-se outra etapa:
A reconstrução do país para sua plenitude.

Destrinche, neurônio a neurônio, a alienação de sua mente.
O artista não precisa ser genial,
Não precisa ser formal,
Basta que tenha sensibilidade e poder ficcionário.

Enquanto o novo faz revoluções,
Causa turbilhões de emoção.
O velho joga baralho e perde o dinheiro da família.
O retrato dos regimes, antigo e novo,
Estadista e comunista.

Como uma flor de Luxemburgo,
A esperança renasceu na arte do
Anti-gênios,
Rasgando o gelo com suas palavras simples.
Roubando a cena de políticos indecentes.

Surge o rumo para o crescimento,
Uma horta de sabores anticongelantes,
E a Rússia nem se lembra dele,
Ao menos seu nome deve ser lembrado:
Mayakovsky, o condutor do proletariado.

Lapsos de fúria

Um segundo e o pavor é consciente.
Hecatombes nucleares fazem a insanidade violentar-me,
gritam a favor da vileza.

O sol espanca-me com suas armas anti-congelantes,
raios ultravioletas.

Inconsciente.
Sociedade contemporânea estrangula o amor.
Tenho direito ao colo edipiano,
mesmo quando a tormenta da insegurança faz tremer a balança.

A família destruída pela falta de moral.
Uma tépida guerra fria criada pela mídia anti-erudita.

Julgo;
pelas faces que tive que arranhar.
Surto;
pelos dias que me pus a sonhar.

Não serei o martírio de suicidas,
o herege dos católicos.
Mas ao fogo jogarei todos os lúcidos/beoscios.

O prazer desconhece minhas lamúrias.
O sangue coagula e torno-me um doente.
Digno de livros, contos e poesias subseqüentes.
Sou eu o lapso de fúria.

13.12.06

Das chagas à cura

Das minhas chagas sinto haurir a dor.
Resoluto, parti para o ilusório.
Como um infante atrás de diversão,
faço de mim o heliotropismo floral.

Haustos e cigarros.
Bohêmio e presciente,
Drogado, mas consciente.

Refúgio de outrora,
tornou-se o tormento do presente.
As palavras suscitam de um crucifixo.
Sustento heresias como proteção.

Não há Deus, disso tenho convicção.
Sou o sustentáculo da voz por trás do medo,
Feitor de um povo sem razão.
Iconoclasta por preconceito.
Ilibar de dogmas, eis a minha missão

O crucifixo social

Proclamados os adventos pueris da ilusão eclesiástica.
Divulgados as mentiras de uma religiosidade calamitosa.
Correntes de ar anunciam o rompimento dos sentidos.
O inconsciente vêm e finalmente me transforma.

Em nome do Pai...

Aos prantos, segurando suas metralhadoras, crianças saem as ruas.
Aos cantos, de uma parede insólida, enfermos clamam por uma morte prematura.

Em nome do Filho...

A massa ignária em decadente estado.
Os governantes trofônios,em salas confortáveis entre haustos e cigarros.

E do Espírito Santo...
A palavra é o meu artifício.
Ao nada cultuo, mas livro-me de hipocrisias.
A razão é mais forte que a dor psicológica.
E os olhos fecham e bradam pela discórdia.

Aos domingos são perdoados todos seus pecados.
Reza e repete pra si mesmo que os filho de Deus têm direito ao erro.
Um sinal simbólico, uma falsa expressão filantrópica;
E todos voltam aos seus lares e continuam suas vidas hipócritas.

Amém.

12.12.06

A liberdade de ser ou não ser

Ser.
Sou ou não sou.
Procuro ou acho.
Luto ou desisto.

Ser ou não ser.
Distante ou perto.
Vitória ou insucesso.
Amargura ou afeto.

Querer é poder.
Julgar ou conviver.
Vida e morte.
Sonho e realidade.

Ilusão, devoção.
Epifises e diafises em conjunção.

O inferno de Dante cai sobre os sentinelas da moral.
E a enfermidade da alma se esvai junto com as cores do profano/animal.

Ambiguidades sensoriais.
Libidinosidades sacais.
Sentidos antes de padecer.
Não espere.
Não reze.
Viva a liberdade de ser ou não ser.