4.5.08

A profanação da realidade - O homúnculo no navio negreiro.

Partes por partes fechavam-se as paredes de um calabouço.
Partes por partes, no mundo feérico, eu não estava preso como os outros.
Atormentados, pelo desconforto espacial, por dejetos humanos,
E pela falta de esperança no sobrenatural.

Olhos e mais olhos na escuridão.
Fixados em um único ponto:
A porta que lhes daria a liberdade.

As dúvidas das crianças se tornavam incessantes.
Mas, nada era tão irritante quanto o falastrão ao lado,
Com suas lamúrias e contos sobre a vida errante.

Então, indignado, bradei aos ecos deste pedaço de madeira:

Deus,
quem será digno de tua compaixão?
Quem libertarás do cárcere?
Quem será o último a gritar:
Liberdade para a profanação?

O choro era escutado mais forte.
Crianças, jovens, adultos e idosos.
Choravam e choravam.
Pois percebiam, neste momento,
que seus parentes eram só a contagem de mortos.

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